A experiência histórica tem revelado o formidável poder de resistência e de adaptação da família a mudanças económicas e sociais radicais e apresenta-a como uma instituição em contínua formação.
De facto, se “há instituição que se tem adaptado às diferentes formas de viver em sociedade, demonstrando a plasticidade e flexibilidade das suas formas de organização, ela é certamente a família”.14
Hoje já começa a ser consensual a ideia de que não se deve pensar em termos de um modelo standardou dominante de família, mas sim em vários modelos e formas familiares. Conforme já foi referido, a família sofreu ao longo dos últimos anos, profundas transformações na sua estrutura e formas de organização, conduzindo a novas e variadas configurações que não podem deixar de ser consideradas como novas formas familiares. Ou seja, o que se defende hoje é que todas as diferentes formas de família ou agregados domésticos são igualmente válidos e que o modelo tradicional de família nuclear, constituído por uma unidade de duas gerações, não deve ser privilegiado sobre qualquer outra forma de vida doméstica, sejam elas famílias monoparentais, adoptivas, reconstituídas, sem filhos, etc...
Antes da industrialização, as famílias europeias eram também unidades de produção económica, produzindo os bens necessários à sua sobrevivência. Desde muito cedo, as crianças participavam nas actividades económicas da família sendo encaradas como força de trabalho. Assim que saiam do período da primeira infância, passavam a ser consideradas como «adultos em miniatura». As mulheres, além de assegurarem o trabalho doméstico, colaboravam também activamente nessas actividades. Os casamentos resultavam essencialmente de alianças familiares pelo que as relações sexuais ultrapassavam as fronteiras do casamento conduzindo a elevadas taxas de ilegitimidade que atravessava todas as classes sociais. As ligações com a comunidade imediata eram muito estreitas e a família beneficiava de muito pouca privacidade. A comunidade participava directa ou indirectamente em todas as decisões da família e assumia ainda diversas funções como a socialização das crianças exercendo deste modo um grande controlo sobre a vida familiar.
Com o advento da industrialização assiste-se a uma mudança por muitos considerada radical: a separação do local de trabalho do local de residência familiar. O trabalho passa a desenrolar-se exteriormente ao contexto familiar e isto influencia de diversas formas a organização e dinâmica familiar. A família torna-se pela primeira vez num espaço privado. Os interesses comunitários transferem-se para os interesses individuais e a família passa a centrar-se no pai, mãe e filhos. O contraste implícito entre a família tradicional baseada numa rede alargada e bem estruturada de relações familiares ligadas por deveres e obrigações e uma muito mais reduzida, individualista e frágil família dos tempos modernos, é cada vez mais notório e presente. A estrutura familiar passa a estar relacionada com a atracção sexual, com o amor e companheirismo. O casamento romântico passa a ditar as regras. A livre escolha do cônjuge e a homogamia são o que melhor define, nesta altura, a relação conjugal. A privatização da família traz consigo a necessidade de apoio para a realização de certas funções que anteriormente desempenhava sozinha ou com o apoio da comunidade, como por exemplo a educação das crianças, que passa agora a ser assegurada pelo Estado.
Muitos autores anunciam então a perda de funções da família. Mas contra este argumento surge a ideia de que em lugar da perda de funções da família se processa antes uma mudança dessas funções e que essa mudança aconteceu no sentido de uma cada vez maior especialização. A família continua a ser ainda hoje o lugar privilegiado de socialização das crianças e o lugar por excelência da troca de afectos.
Nos últimos 40 ou 50 anos verificou-se a aceleração de um conjunto de transformações económicas e sociais que, directa ou indirectamente, influenciaram a vida familiar. A década de sessenta marcou uma viragem decisiva na história da família nas sociedades industriais do ocidente. Os movimentos sociais e, entre eles, o movimento feminista, contestaram o entendimento então dominante sobre a família. A ideologia que pretensamente justificava a supremacia do homem no interior do lar já não encontrava razão de ser numa sociedade onde as mulheres ocupavam já postos de trabalho ao lado dos homens. A actividade feminina assalariada transformou a relação conjugal numa relação mais igualitária, democrática e simétrica. A par desta entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho ocorreu também a adesão feminina a novos valores e normas sociais e a alteração dos comportamentos sexuais. A utilização da contracepção e o recurso ao divórcio impuseram modificações profundas à realidade da instituição familiar, modificações essas que se repercutem por toda a estrutura social.
A diminuição da fecundidade do casal iniciada no séc. XIX acentua-se na segunda metade do século XX, nesta altura acompanhada também pela diminuição do número de Representações e expectativas sobre a família e a adopção em crianças e jovens institucionalizados casamentos, aumento do número de divórcios, de uniões de facto, do nascimento de crianças fora do casamento, do número de famílias monoparentais entre muitas outras mudanças.
Em consonância com esta adesão a novos valores sobre a conjugalidade, novas formas de viver a família e a sexualidade emergem um pouco por toda a Europa, nomeadamente a homossexualidade, que começa lentamente a ser menos condenada socialmente, sendo inclusive, hoje, nalguns países, permitido o casamento entre homossexuais.
Quando se olha para as transformações denunciadas pelos indicadores demográficos pode pensar-se que a importância da família ou do casamento diminuiu drasticamente mas, na realidade, sempre que em inquéritos se confrontaram os europeus com questões relativas à importância da vida familiar ou do casamento, as respostas são na sua maioria no sentido da vida afectiva e familiar serem sempre consideradas da maior importância para a felicidade e realização pessoal. O que parece ser definitivamente rejeitado é a família no sentido mais tradicional do termo – assimétrica em direitos para homens e mulheres, ligada por um laço conjugal indissolúvel e baseada numa relação de autoridade entre pais e filhos. Admite-se hoje a convivência de modelos diferentes e da pluralidade de formas familiares.
Também tem sido defendido que a família nuclear de hoje enquanto instituição se encontra cada vez mais segregada e isolada das outras instituições da sociedade. De facto, parece evidente que uma sociedade mais industrializada e urbana facilite o desenvolvimento de uma maior privacidade nas relações conjugais e parentais. Contudo, e mais uma vez, vozes discordantes chamam a atenção para o facto de nos últimos duzentos anos se ter assistido a uma gradual erosão das fronteiras da família, através de uma série de intervenções estatais e de diversos grupos profissionais da sociedade. O surgimento e desenvolvimento da escolaridade obrigatória ou da idade da reforma são exemplos de intervenção estatal indirecta que sem qualquer dúvida condiciona os modos de funcionamento e organização das famílias modernas. Medidas de intervenção mais directas são, por exemplo, as leis do divórcio e, no que a este estudo diz respeito, as leis de protecção às crianças e jovens em risco e as consequentes acções levadas a cabo no terreno por profissionais diversos como assistentes sociais, médicos, magistrados, entre outros.
De facto, se “há instituição que se tem adaptado às diferentes formas de viver em sociedade, demonstrando a plasticidade e flexibilidade das suas formas de organização, ela é certamente a família”.14
Hoje já começa a ser consensual a ideia de que não se deve pensar em termos de um modelo standardou dominante de família, mas sim em vários modelos e formas familiares. Conforme já foi referido, a família sofreu ao longo dos últimos anos, profundas transformações na sua estrutura e formas de organização, conduzindo a novas e variadas configurações que não podem deixar de ser consideradas como novas formas familiares. Ou seja, o que se defende hoje é que todas as diferentes formas de família ou agregados domésticos são igualmente válidos e que o modelo tradicional de família nuclear, constituído por uma unidade de duas gerações, não deve ser privilegiado sobre qualquer outra forma de vida doméstica, sejam elas famílias monoparentais, adoptivas, reconstituídas, sem filhos, etc...
Antes da industrialização, as famílias europeias eram também unidades de produção económica, produzindo os bens necessários à sua sobrevivência. Desde muito cedo, as crianças participavam nas actividades económicas da família sendo encaradas como força de trabalho. Assim que saiam do período da primeira infância, passavam a ser consideradas como «adultos em miniatura». As mulheres, além de assegurarem o trabalho doméstico, colaboravam também activamente nessas actividades. Os casamentos resultavam essencialmente de alianças familiares pelo que as relações sexuais ultrapassavam as fronteiras do casamento conduzindo a elevadas taxas de ilegitimidade que atravessava todas as classes sociais. As ligações com a comunidade imediata eram muito estreitas e a família beneficiava de muito pouca privacidade. A comunidade participava directa ou indirectamente em todas as decisões da família e assumia ainda diversas funções como a socialização das crianças exercendo deste modo um grande controlo sobre a vida familiar.
Com o advento da industrialização assiste-se a uma mudança por muitos considerada radical: a separação do local de trabalho do local de residência familiar. O trabalho passa a desenrolar-se exteriormente ao contexto familiar e isto influencia de diversas formas a organização e dinâmica familiar. A família torna-se pela primeira vez num espaço privado. Os interesses comunitários transferem-se para os interesses individuais e a família passa a centrar-se no pai, mãe e filhos. O contraste implícito entre a família tradicional baseada numa rede alargada e bem estruturada de relações familiares ligadas por deveres e obrigações e uma muito mais reduzida, individualista e frágil família dos tempos modernos, é cada vez mais notório e presente. A estrutura familiar passa a estar relacionada com a atracção sexual, com o amor e companheirismo. O casamento romântico passa a ditar as regras. A livre escolha do cônjuge e a homogamia são o que melhor define, nesta altura, a relação conjugal. A privatização da família traz consigo a necessidade de apoio para a realização de certas funções que anteriormente desempenhava sozinha ou com o apoio da comunidade, como por exemplo a educação das crianças, que passa agora a ser assegurada pelo Estado.
Muitos autores anunciam então a perda de funções da família. Mas contra este argumento surge a ideia de que em lugar da perda de funções da família se processa antes uma mudança dessas funções e que essa mudança aconteceu no sentido de uma cada vez maior especialização. A família continua a ser ainda hoje o lugar privilegiado de socialização das crianças e o lugar por excelência da troca de afectos.
Nos últimos 40 ou 50 anos verificou-se a aceleração de um conjunto de transformações económicas e sociais que, directa ou indirectamente, influenciaram a vida familiar. A década de sessenta marcou uma viragem decisiva na história da família nas sociedades industriais do ocidente. Os movimentos sociais e, entre eles, o movimento feminista, contestaram o entendimento então dominante sobre a família. A ideologia que pretensamente justificava a supremacia do homem no interior do lar já não encontrava razão de ser numa sociedade onde as mulheres ocupavam já postos de trabalho ao lado dos homens. A actividade feminina assalariada transformou a relação conjugal numa relação mais igualitária, democrática e simétrica. A par desta entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho ocorreu também a adesão feminina a novos valores e normas sociais e a alteração dos comportamentos sexuais. A utilização da contracepção e o recurso ao divórcio impuseram modificações profundas à realidade da instituição familiar, modificações essas que se repercutem por toda a estrutura social.
A diminuição da fecundidade do casal iniciada no séc. XIX acentua-se na segunda metade do século XX, nesta altura acompanhada também pela diminuição do número de Representações e expectativas sobre a família e a adopção em crianças e jovens institucionalizados casamentos, aumento do número de divórcios, de uniões de facto, do nascimento de crianças fora do casamento, do número de famílias monoparentais entre muitas outras mudanças.
Em consonância com esta adesão a novos valores sobre a conjugalidade, novas formas de viver a família e a sexualidade emergem um pouco por toda a Europa, nomeadamente a homossexualidade, que começa lentamente a ser menos condenada socialmente, sendo inclusive, hoje, nalguns países, permitido o casamento entre homossexuais.
Quando se olha para as transformações denunciadas pelos indicadores demográficos pode pensar-se que a importância da família ou do casamento diminuiu drasticamente mas, na realidade, sempre que em inquéritos se confrontaram os europeus com questões relativas à importância da vida familiar ou do casamento, as respostas são na sua maioria no sentido da vida afectiva e familiar serem sempre consideradas da maior importância para a felicidade e realização pessoal. O que parece ser definitivamente rejeitado é a família no sentido mais tradicional do termo – assimétrica em direitos para homens e mulheres, ligada por um laço conjugal indissolúvel e baseada numa relação de autoridade entre pais e filhos. Admite-se hoje a convivência de modelos diferentes e da pluralidade de formas familiares.
Também tem sido defendido que a família nuclear de hoje enquanto instituição se encontra cada vez mais segregada e isolada das outras instituições da sociedade. De facto, parece evidente que uma sociedade mais industrializada e urbana facilite o desenvolvimento de uma maior privacidade nas relações conjugais e parentais. Contudo, e mais uma vez, vozes discordantes chamam a atenção para o facto de nos últimos duzentos anos se ter assistido a uma gradual erosão das fronteiras da família, através de uma série de intervenções estatais e de diversos grupos profissionais da sociedade. O surgimento e desenvolvimento da escolaridade obrigatória ou da idade da reforma são exemplos de intervenção estatal indirecta que sem qualquer dúvida condiciona os modos de funcionamento e organização das famílias modernas. Medidas de intervenção mais directas são, por exemplo, as leis do divórcio e, no que a este estudo diz respeito, as leis de protecção às crianças e jovens em risco e as consequentes acções levadas a cabo no terreno por profissionais diversos como assistentes sociais, médicos, magistrados, entre outros.
Fonte: Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa. (s.d.). Consultado em 5 de Maio, 2011. Disponível em http://maracuja.homeip.net/files/doc/tjps.pdf
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